CERÂMICA
A cerâmica é uma das primeiras formas de expressão artística utilizada pela humanidade.
É uma forma de ligação com o barro da mãe terra, não só para criar objectos funcionais, mas também cerimoniais.
Uma ligação com as nossas origens onde a beleza artística, a utilidade prática e a religião se podem juntar.
Aqui responderemos a quaisquer perguntas que possa ter sobre este assunto e explicaremos tudo o que precisa de saber sobre este mundo fascinante.
ORIGEM DA CERÂMICA
O termo olaria vem da Grécia antiga e era o nome de um bairro popular em Atenas onde vivia um grande número de oleiros, ou o que hoje conheceríamos como oleiros.
As palavras olaria e cerâmica são utilizadas indiferentemente e podem ser consideradas sinónimos, embora ainda haja algum debate sobre se existem diferenças entre as duas, esclareceremos esta questão a seguir.
Os humanos têm vindo a utilizar argila queimada desde antes do metal. Uma das mais antigas peças de cerâmica sobreviventes é uma tigela encontrada na província de Jiangxi no sul da China, datada de há 20.000 anos, e em algum lugar o famoso Dolní Věstonice terracota Venus já em 29.000 a.C.
O QUE É A CERÂMICA?
O que define o termo cerâmica em termos de material é o facto de ser criada a partir de barro com uma queima subsequente.
Refere-se também ao trabalho do oleiro, à arte de criar este tipo de objecto de terracota.
O conceito de argila implica uma série de características específicas, tais como ser o produto da desintegração de rochas e ser constituído por partículas muito finas (menos de 0,004 mm de diâmetro), embora a exigência de ser uma matéria-prima utilizada em cerâmica possa ser alargada a qualquer mistura de material inorgânico não metálico susceptível de tratamento térmico.
Esta espessura muito fina dos “grãos” de argila é a chave do seu comportamento como massa, unidos pela água que contém, razão pela qual a areia não é argila mesmo que também possa conter água, uma vez que as partículas são mais grosseiras e quebram-se.
Uma consequência do tamanho das partículas finas é que durante a queima elas derreterão umas nas outras para formar uma unidade ou bloco rígido.
Há uma grande variedade de tipos de argilas utilizadas, incluindo misturas de materiais obtidos por vários processos personalizados, que poderiam ser chamadas argilas sintéticas.
Tendo em conta na definição de argila a exigência de vir da sedimentação de matéria proveniente de rochas da Terra, alguns materiais sintéticos, que também são queimados num forno, não seriam argilosos e portanto não cerâmicos, tais como os baseados em PVC, tais como argilas poliméricas.
A cerâmica é também chamada o processo de fabrico de qualquer tipo de objecto a partir da argila e o seu posterior cozedura ou tratamento térmico.
A cerâmica em sentido lato não são apenas peças artísticas, cerâmicas ou azulejos. A sua aplicação em áreas industriais tem sido cada vez mais implementada nas últimas décadas desde os anos 70, também graças ao desenvolvimento de novas técnicas de fabrico. Só nos Estados Unidos, a indústria avançada da cerâmica vale mais de 13 mil milhões de dólares.
OS DIFERENTES TIPOS
Embora muitos dos materiais e técnicas permaneçam em grande parte inalterados hoje em dia, a sua rica história significa que há muita terminologia com que se confrontar. Com uma gama de métodos de queima e uma gama ainda mais vasta de diferentes variedades de argila, para muitos de nós com conhecimentos limitados, pode ser confuso.
Embora toda a cerâmica tradicional seja à base de barro e a maioria das variedades seja cozida no forno, o tipo de barro utilizado e a temperatura a que o barro é aquecido produzem efeitos muito diferentes. Por vezes pode ser difícil determinar exactamente em que categoria a sua olaria se enquadra.
Três categorias principais de cerâmica (embora haja mais classes e subclasses) são normalmente identificadas, estas são:
A composição das argilas utilizadas, o tipo de aditivos e as temperaturas de cozedura determinam a natureza do produto final.
Pode encontrar mais informações no nosso guia de tipos de cerâmica.
Existe também uma cerâmica “avançada” ou industrial que tem em conta os componentes mais fortes e resistentes conhecidos. Estas cerâmicas são frequentemente utilizadas no fabrico de produtos de consumo, construção, equipamento e maquinaria científica, automóveis ou veículos, e muitos outros.
Hoje em dia, o termo cerâmica tem um significado mais amplo e por vezes tem em conta vários materiais como o vidro, materiais cimentados e cerâmicas para aplicações industriais e tecnológicas.
QUAL É A CERÂMICA MAIS FORTE E MAIS DURA?
Dependendo da sua composição, estrutura e processamento, podem ser obtidos materiais cerâmicos muito diferentes, explicamos as suas características e aplicações, alguns deles são surpreendentes!
INCLUINDO TODOS OS MATERIAIS DA INDÚSTRIA CERÂMICA
A dureza e resistência da cerâmica depende da composição específica e do processo de fabrico utilizado. A cerâmica com um elevado teor de carboneto de silício, óxido de alumínio ou nitreto de silício resiste bem ao desgaste e às altas temperaturas.
As cerâmicas de carboneto de silício são conhecidas pela sua dureza e resistência à abrasão, tornando-as ideais para utilização em aplicações tais como rolamentos de esferas e discos de travões.
As cerâmicas de óxido de alumínio são também muito duras e são frequentemente utilizadas em ferramentas de corte.
A cerâmica de nitreto de silício tem alta resistência ao desgaste e pode resistir a altas temperaturas, tornando-as úteis em peças de motor e esferas de rolamento.
A cerâmica composta de zircónia resiste bem aos impactos. Este material é utilizado em coletes e escudos à prova de bala.
Deve-se notar que embora estas cerâmicas possam ser muito duras e resistentes ao desgaste, também podem ser quebradiças e propensas a rachar ou quebrar sob forte impacto ou stress.
Este material é também muito resistente a temperaturas extremas e por isso é utilizado em motores de foguetes para os proteger e noutras áreas como a base dos veículos de lançamento para os isolar das altas temperaturas geradas durante a reentrada na atmosfera terrestre.
A resistência de um material cerâmico é determinada pela sua microestrutura e pelo tipo e número de ligações entre as partículas. Factores tais como a pureza dos materiais constituintes, a presença de defeitos ou impurezas e a temperatura e duração do processo de cozedura determinam a resistência do produto cerâmico final.
QUAL É A CERÂMICA DOMÉSTICA MAIS DURA?
Quanto à cerâmica doméstica, dependendo da composição e da temperatura e tempo de queima, teríamos um “continuum” de resistência ao impacto e aos riscos que vão desde terracota não vidrada ou faiança até porcelana de alta pureza.
O esmalte é um material semelhante ao vidro feito de sílica, alumina e outros óxidos. É conhecido pela sua durabilidade e resistência a riscos, manchas e odores e é frequentemente utilizado para utensílios de cozinha e outros produtos domésticos.
Qualquer cerâmica não vidrada lascará, rachará e arranhará muito facilmente.
A porcelana é feita de caulino, feldspato e quartzo. É conhecida pela sua força, dureza e resistência ao desgaste. Os utensílios de cozinha e de mesa feitos de porcelana são normalmente utilizados em casas devido à sua durabilidade e resistência.
A DIFERENÇA ENTRE OLARIA E CERÂMICA
Embora estes termos sejam utilizados para descrever diferentes tipos de artigos domésticos ou várias peças artísticas, tanto a cerâmica como a cerâmica são frequentemente sinónimos. Os dois podem ser utilizados alternadamente para qualquer peça de louça de mesa formada a partir de barro, depois cozida num forno e vidrada ou decorada de acordo com o acabamento desejado.
Contudo, a cerâmica é um termo mais geral que pode incluir componentes de construção, telhas, telhados ou artigos sanitários.
Enquanto o termo olaria é mais restrito à tradição e cultura populares, e ao trabalho de fazer objectos para uso alimentar, tais como jarros de vinho, vasos de óleo, etc. Por outras palavras, a olaria é cerâmica, mas NÃO toda a cerâmica é olaria.
Trabalho original de Enrique Vásconez
A CERÂMICA COMO ARTE
A arte da cerâmica, claro que pode ser, dependendo do objecto criado, o processo?
O processo de trabalhar a cerâmica através da modelação manual pode ser uma arte, influenciando a psique do indivíduo que “cria”. E os critérios para decidir se o objecto criado é ou não um objecto de arte já seriam arbitrários.
O facto de os utensílios serem feitos com um carácter prático, por exemplo um jarro, não exclui que o objecto possua uma beleza que lhe confira a natureza de um objecto artístico. Contudo, temos de concordar que existe uma certa diferença entre um pote ou escultura feita à mão e uma ficha feita num molde (a cerâmica era um material que em tempos foi amplamente utilizado devido à sua capacidade de isolar electricidade).
Por todas estas razões, uma área distinta será todo o trabalho considerado como escultura de cerâmica.
Existe um vasto repertório de métodos e formas de criação, cujas diferenças estão, entre muitas outras, em que técnica o oleiro utiliza para tratar a forma, que método utiliza para conseguir as cores, ou como queimar o barro, modificando o tempo e/ou a temperatura do barro.
Por sua vez, os materiais utilizados, a função do objecto criado (artístico, funcional, religioso), as suas aplicações, e os estilos utilizados definem uma vasta gama de tipos de cerâmica.
MATERIAIS PARA CERÂMICAS
Existem quatro materiais ou elementos principais:
- Argila
- As ferramentas
- A roda do oleiro
- O forno
Argila
É a matéria-prima por excelência, é encontrada em abundância e está facilmente disponível, e é utilizada para produzir a grande maioria das obras de olaria.
No entanto, embora a grande maioria da produção cerâmica seja feita com argila natural, existem muitas diferenças entre os resultados obtidos em função dos tipos de argila escolhidos.
A fim de classificar os materiais utilizados na cerâmica, são geralmente utilizados dois critérios: um é a composição e o outro é a aplicação dada à peça.
Dependendo da composição, existem carbonetos, óxidos, nitretos, sulfuretos, etc. Este tipo de composto dá-nos materiais como argila branca ou caulino, que é altamente apreciado e um componente essencial da porcelana.
Dependendo da aplicação ou uso da cerâmica, poderíamos falar não só de cerâmica artística, mas também de cerâmica industrial, que inclui produtos abrasivos, produtos cimentados, as chamadas cerâmicas avançadas (que são compostas por certos compostos muito específicos que contêm óxido de alumínio ou carboneto de silício), produtos refractários (que suportam altas temperaturas e são também isolantes térmicos), etc.
Podes ler mais na nossa publicação sobre materiais para cerâmicas artísticas.
AS FERRAMENTAS
Antes das ferramentas, a primeira coisa a ser usada em olaria é roupa apropriada e muitas vezes um avental.
Também serão usadas toalhas para limpeza e panos de camurça para alisar superfícies.
Cortadores (por exemplo, uma linha de pesca unida por dois pedaços nas extremidades para cortar grandes pedaços de barro) e facas são usados como utensílios.
Ferramentas de madeira, pincéis, etc.
Elementos de medição tais como um medidor para ver larguras e espessuras.
A RODA DO OLEIRO
Este elemento tem milénios. Todos já o vimos em muitas ocasiões e é realmente hipnótico ver como funciona.
Consiste numa superfície circular que é mantida em rotação enquanto a peça está a ser trabalhada.
No início foi movido mecanicamente à mão ou com uma pega, depois foram concebidos métodos para o mover com o pé para que ambas as mãos pudessem ser usadas continuamente. Finalmente, temos o torno eléctrico.
O trabalho de torno requer uma habilidade que leva anos a aprender e é difícil de dominar, exigindo boas capacidades motoras finas.
Neste vídeo incrível podes ver algo que raramente vês hoje em dia: um oleiro maravilhoso da Índia a trabalhar barro com uma única roda, uma oportunidade de ver como foi feito há milhares de anos atrás.
O FORNO
Os primeiros fornos consistiam em fossos no chão, mais tarde foram construídas diferentes estruturas. Foram usados madeira e carvão vegetal.
Depois vieram os combustíveis fósseis, como o petróleo e derivados do petróleo, e mais tarde o gás.
Mais tarde teríamos as eléctricas, que são mais fáceis de usar, instalar e seguras, e são fabricadas com diferentes designs e zonas de abertura.
Estamos sempre a falar de um forno fabricado especificamente para cerâmica, um forno de cozinha convencional não vai funcionar.
A QUE TEMPERATURA O BARRO É QUEIMADO
Existem vários tipos ou fases de queima a diferentes temperaturas, quando as peças passam duas vezes pelo forno, é na segunda fase que existe uma maior diferença de temperatura entre os tipos de argila utilizados.
Uma queima:
Se queimamos cerâmica apenas uma vez, estaríamos a falar de um único fogo, o que não é o mais apropriado, pois nem todos os materiais oferecem um resultado óptimo e obtemos peças que são demasiado porosas e normalmente não são adequadas para uso culinário.
Queima em duas fases:
É mais comum e recomendado do que o anterior processo único. Estas duas fases são:
- Bisque: O barro é queimado a cerca de 1000º e já podíamos falar de cerâmica, mas ainda é porosa.
- Segunda queima: É utilizada a temperatura requerida pelo material e o resultado que procuramos.
Existe também uma opção em três fases, que é recomendada se tiveres trabalhado com materiais como gordura ou polimentos.
Para a segunda queima de cerâmica existem algumas temperaturas de referência para diferentes tipos de cerâmica:
TERRACOTA | 1.000-1.080 ºC |
GRÉS | 1.200-1.300 ºC |
PORCELANA | 1.280-1.350 ºC |
LOUÇA | 1.060-1.180 ºC |
TÉCNICAS CERÂMICAS
O ofício de oleiro é tão antigo como a própria humanidade, podemos encontrar uma infinidade de técnicas que remontam ao amanhecer dos tempos, todas elas desde a mais básica, que é a modelação do pedaço de barro com as próprias mãos, até às mais vanguardistas que são utilizadas hoje em dia, beneficiando da tecnologia.
As técnicas usadas para criar a partir da argila inicial podem ser agrupadas nas que são aplicadas à forma (desde o amassamento inicial da argila até à decoração final), as que usam a cor (com misturas de diferentes argilas ou já passando à pintura, vidrados, etc.) e as que usam o processo de cozedura como mais uma fase artística para conseguir efeitos estéticos, como no caso do Raku.
Podes ler tudo sobre isso na nossa secção sobre técnicas de cerâmica.
SUMÁRIO:
Aqui estão algumas das perguntas mais frequentes sobre alguns dos conceitos principais:
O que é a cerâmica?
A cerâmica é tanto o método como o resultado de moldar a argila e depois dispará-la num forno, produzindo peças resistentes ao calor que não enferrujam nem corroem, e que são duras e quebradiças.
O que é a argila?
É o resultado da meteorologia e sedimentação das rochas da Terra, produzindo um material natural que é maioritariamente não orgânico, não metálico e de granulação fina (ou seja, com menos de 0,004 mm de diâmetro).
Qual é a diferença entre cerâmica e olaria?
Os dois termos podem ser sinónimos e são usados alternadamente para se referir a trabalhos e peças de barro cozido. Contudo, o termo cerâmica é mais amplo, uma vez que também inclui elementos industriais como louça sanitária, isolamento térmico, isolamento eléctrico, etc.
Quais são os tipos de cerâmicas?
Por um lado, existem cerâmicas industriais e avançadas, e por outro lado, cerâmicas tradicionais. Dentro desta última, existem vários tipos de cerâmica. Entre elas, por ordem de dureza, porosidade e temperatura de cozedura, nós temos:
- Terracota.
- Louça.
- Grés.
- Porcelana.
A porcelana é cerâmica?
Sim. É um tipo de cerâmica. Difere no facto de ter um elevado conteúdo mineral de caulinite e de ser disparado a temperaturas mais elevadas do que outros tipos. Também tem menor porosidade e maior dureza. Também pode ter alguma transparência.
Podes também aceder a alguns dos nossos principais guias de cerâmica abaixo:
TIPOS DE CERÂMICAS
Ainda em uso desde os tempos antigos, existe uma grande variedade de estilos de cerâmica com diferentes aplicações, usos e origens.
MATERIAIS PARA CERÂMICA
Quais escolher? Existem alguns critérios básicos para escolher as argilas mais adequadas para um trabalho específico e para atingir o resultado esperado.
TÉCNICAS CERÂMICAS
Escolhe a composição inicial, cria a forma, a cor e usa as diferentes queimas. Explicamos as principais metodologias usadas.
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